artigos e ensaios - 1990 / Mariza Peirano

Só para iniciados

São quatro autores clássicos da antropologia os personagens do livro recente de Clifford Geertz, Works and lives - the anrhropologist as author (Stanford, Stanford University Press, 1988, 157 pp.). À primeira vista a impressão é de que se trata de um desdobramento do artigo de 1983, no qual Geertz propunha uma etnografia do pensamento moderno que se seguiria à etnografia de povos exóticos. Se a questão era se saber como outros organizam seu mundo ignificativo, estes outros tanto poderiam estar além-mar quanto no fim do corredor: "Agora somos todos nativos", proclamou Geertz (1983).

Dentro dessa perspectiva, as várias disciplinas acadêmicas representariam "formas de estar no mundo" e, para estudá-las, três temas seriam de especial importância. No primeiro caso estariam os dados como descrições, medidas e observações. Argumentava Geertz que, "já que os estudiosos modernos não são mais solitários que os bushmen" (1983: 156), métodos antropológicos clássicos poderiam ser aplicados a ambos. O segundo tema compreenderia as categorias linguísticas, pelas quais o autor confessava a sua simpatia: como na etnografia tradicional, quando o significado de termos-chaves é discernido, esclarece-se muito da maneira como se vive no mundo. Finalmente, o foco de atenção estaria na observação do ciclo de vida, no qual fenômenos sociais, culturais e psicológicos estariam impressos no contexto de carreiras acadêmicas. É com esta expectativa, a de encontrar uma etnografia da antropologia, que se pode ler Works and lives, publicado em 1988.

O livro é construído de maneira elegante. Entre uma introdução ("Being there") e uma conclusão ("Being here") inserem-se quatro ensaios, cada um focalizando um autor clássico da disciplina: Lévi-Strauss,Evans-Pritchard, Malinowski e Ruth Benedict. A preocupação de Geertz, entre os temas metodológicos que havia estabelecido anteriormente, está no segundo deles: a linguagem. Geertz avisa no prefácio que, embora temas biográficos e históricos entrem eventualmente na discussão, o estudo se restringe principalmente à questão de como os antropólogos escrevem, ou, como diz o subtítulo, no problema "do antropólogo como autor".Leia na íntegra...