artigos e ensaios - 2017 / Mariza Peirano

Surpresas etnográficas: os vinte anos do NuAP

Nada começa de repente; tudo tem um antes. Eventos, projetos, cursos, rituais, todos florescem em ritmo lento antes de acontecerem. E, depois que acontecem, deixam marcas, e são muitas vezes seguidos de desdobramentos inesperados. Ocasionalmente, com o passar do tempo, definham-se; outras, se multiplicam.

O NuAP teve um início formal em 1997 e, também formalmente, teria se encerrado em 2005. Essas datas são importantes, especialmente porque marcam os anos em que tivemos fontes de financiamento para pesquisa, para encontros, viagens, uma secretaria, publicação de cadernos e, especialmente, os 33 livros que resultaram das pesquisas. Foi o período em que o NuAP foi considerado Núcleo de Excelência pelo CNPq e, como consequência, aquinhoado com recursos generosos. Depois disso, embora os recursos tenham minguado, as ideias do NuAP não definharam. Ao contrário, expandiram-se, levados e divulgados por antigos ex-doutorandos daquela época áurea, agora professores universitários, e confirmados pelos livros que se espalharam em várias bibliotecas. Cursos de "antropologia da política" surgiram em vários programas de pós-graduação; artigos e livros inspiraram antropólogos em outras latitudes e, embora a dificuldade de comunicação face-a-face tenha aumentado, para muitos as ideias do NuAP impregnaram-se em nós, tornando-se parte do nosso universo intelectual.

Gostaria de falar um pouco sobre o antes (isto é, antes de 1997) e sobre o depois (após 2005). O antes privilegia os acasos; o depois, as consequências etnográficas e teóricas do NuAP, como eu as vejo hoje.Leia na íntegra...