artigos e ensaios - 2005 / Mariza Peirano

A teoria vivida.

Reflexões sobre a orientação em antropologia

"A relação de 'intensa orientação' em seu sentido mais pleno é sempre o primeiro elo da formação mediata ou imediata dessas linhagens em que se estrutura a identidade do antropólogo".

(Duarte 1995: 13).

A orientação de um aluno é um processo que faz parte integrante da vida acadêmica, vale dizer, todos nós fomos orientados um dia, quase todos orientamos hoje. Esta prática não é, portanto, um momento isolado; ela está inserida em um processo maior, o da reprodução, continuidade e expansão da disciplina. Somos elos de uma seqüência de gerações, e é por meio do que chamamos de "orientação" que dois pesquisadores vivem uma relação estreita de cumplicidade teórica, freqüentemente de média, senão de longa, duração, que tem como objetivo imediato a produção de uma monografia. Refiro-me não apenas ao aspecto formal da elaboração de uma dissertação ou tese, seu lado instrumental, mas a um experimento antropológico e, eventualmente, a uma contribuição à disciplina.

Nesta comunicação, começo explicitando algumas dimensões do métier do antropólogo, sobre as quais se baseia a minha experiência de orientação. Examino, a seguir, três aspectos: (i) os critérios de orientação - para afirmar que não há como estabelecê-los; (ii) a característica fundante da orientação - para propor que este é o momento sui generis em que a teoria é vivida por duas gerações; e (iii) o papel da orientação nas carreiras intelectuais - para sugerir que, para o bem ou para o mal, uma relação que um dia foi de orientação nunca tem fim. Leia na íntegra...