artigos e ensaios - 2009 / Mariza Peirano

Lembranças

A relação de orientação na antropologia produz elos de uma seqüência de gerações intelectuais e revela momentos sui generis em que a teoria é vivida em diálogo entre um professor e um estudante. A orientação é a base da formação de linhagens acadêmicas e intelectuais. Penso que uma relação deste tipo nunca tem fim.

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Conheci David Maybury-Lewis em julho de 1975, no Rio de Janeiro, logo após ser aceita como aluna em Harvard. Ele e Pia estavam no Brasil, hospedados na casa de Bruce Bushey, representante da Fundação Ford, da qual eu havia recebido uma bolsa de doutorado no exterior. Soube, então, que seria sua orientanda.

Na época, surpreendi-me. Na Universidade de Brasília, onde eu havia realizado o mestrado, a escolha do orientador era um processo de mão dupla, um acordo que íamos tecendo ao longo do primeiro semestre de aulas. Depois vim a entender que, nos Estados Unidos de então, e até hoje, aliás, domina uma tendência de os orientadores de antropologia serem definidos por áreas geográfica e cultural. Assim, era natural que David fosse automaticamente designado meu orientador. Leia na íntegra...