artigos e ensaios - 2014 / Mariza Peirano

Etnografia não é método

Aproveitei a última semana de 2013 para fazer meu recadastramento eleitoral biométrico, nesse período em que Brasília fica vazia e sem filas. Fui logo atendida no posto e, com poucas pessoas presentes, passei por duas etapas. Na primeira mesa a que fui levada, apresentei os documentos exigidos: o antigo título de eleitor, a carteira de identidade e o comprovante de residência e, em troca, recebi uma folha impressa com os dados que estavam no sistema, inclusive meu histórico de votação em que constavam as duas vezes em que justifiquei o voto por ausência. Confirmei as informações que estavam em dia, fiz as correções e introduzi telefones e e-mail, conforme solicitado. Enquanto isso, o funcionário do TRE fazia uma cópia da minha carteira de motorista. Tudo certo, assinei meu nome num tablet depois de ser orientada de que a assinatura deveria ser igual à da identidade.

Conduzida à outra mesa, constatei que as informações fornecidas há poucos minutos já estavam disponíveis online para este segundo funcionário, inclusive minha recente assinatura. Com um painel atrás de mim, e um leitor óptico para coletar as impressões digitais, percebi que havia também uma câmera um pouco distante; fui informada pelo jovem que me atendia, muito solícito, aliás, que iria tirar uma fotografia e que eu “poderia sorrir, se quisesse”.

Mais uma vez, confirmei os dados apresentados impressos em outra folha que me foi apresentada e, frente ao novo título, assinei-o, de novo sob a orientação de que deveria fazê-lo igual às outras assinaturas. Estranhei de imediato que o velho e o novo título fossem idênticos, exceto pelos dizeres “identificação biométrica” no canto direito superior. Sem entender, perguntei pela foto que havia acabado de tirar. O funcionário então me explicou que ela não aparece no título; fica armazenada no sistema e, quando houver uma eleição, ao me identificar pela digital, a foto aparecerá no monitor para conferência dos mesários. Leia na íntegra...