artigos e ensaios - 1985 / Mariza Peirano

O Antropólogo como Cidadão

"Nós só seremos civilizados em relação às civilizações o dia em que criamos o ideal, a orientação brasileira. Então passaremos do mimetismo para a fase da criação. E então seremos universais, porque nacionais."

(Mário de Andrade, 1983)

Dentre as muitas considerações recentes sobre a "forma de conhecer" própria à Antropologia ressalta a questão da reversibilidade do conhecimento antropológico. Esta questão torna-se cada dia mais significativa na medida em que se repensam as relações entre antropólogo e grupo estudado. Trabalhos recentes questionam o fato de se os papéis de "pesquisador" e '"nativo" podem ou não invertidos, e trazem à tona problemas que vão desde a pesquisa de campo a abordagens teóricas, chegando mesmo à construção dos textos etnográficos. Implicitamente, chama-se a atenção para as implicações políticas da elaboração teórica, levantando-se questões sobre a des-historização da disciplina e o sincronismo de seus paradigmas dominantes.

Neste contexto, permanece o reconhecimento da pesquisa de campo como o modo privilegiado do conhecimento antropológico, a situação por excelência do encontro com o "outro". No entanto, a própria pesquisa de campo passou a ser vista - e aceita - como um fenômeno histórico, e o "nativo" perdeu o seu caráter passivo. Reconhece-se hoje que, longe de uma fórmula, a pesquisa de campo está inserida em um contexto biográfico (do próprio pesquisador), político e teórico, o que implica diferenças de abordagem dependendo do momento histórico.Leia na íntegra...