capítulos de livros - 1992 / Mariza Peirano

A legitimidade do folclore

Como estudei ciências sociais em uma época - final dos anos 60 - em que o folclore era considerado uma área de pouco prestígio acadêmico, meu conhecimento sobre o assunto é muito limitado. Os folcloristas eram considerados, no meio acadêmico da época, estudiosos bem intencionados, mas diletantes, sem formação teórica, que apenas descreviam o que observavam, geralmente de forma fragmentária e, frequentemente, sem consideração do contexto no qual os fenômenos se desenvolviam.

É nesse espírito de exercício e de depoimento que pretendo discutir o tema a mim suscitado pela presença marcante de antropólogos entre os participantes deste seminário. Pois, afinal, o folclore também teve estreita ligação, há cinquenta anos atrás, com a etnografia, na então Sociedade de Etnografia e Folclore em São Paulo. Se antropologia e etnografia são termos intercambiáveis, senão sinônimos, a questão que me coloquei foi a de saber como e por que o folclore, como campo de estudo, se afastou da antropologia no final dos anos 30 para, nos anos 80, dela se reaproximar.

De início, pode-se perceber que, na verdade, este racicínio é falacioso. Primeiro, porque a etnografia de 1930 não corresponde à antropologia de 1980. Mas, talvez aí esteja uma questão interessante: embora não se correspondam exatamente, apresentam muitos pontos em comum. A questão, então, é se saber por que no período entre 1930 e 1980, quando presenciamos a hegemonia da sociologia entre as ciências sociais, o folclore assumiu aquele status "menor". Em outras palavras: como explicar a legitimidade que o folclore parece ter tido, por exemplo, na Sociedade de Etnografia e Folclore em 1937 e que hoje retoma no Instituto Nacional do Folclore? Leia na íntegra...