capítulos de livros - 1999 / Mariza Peirano

Desterrados e exilados:

Antropologia no Brasil e na Índia

Inicio esta reflexão sobre o desenvolvimento da antropologia no Brasil e na Índia com comentários que dois pensadores fizeram há cinqüenta anos. Refletindo o clima intelectual de seus respectivos contextos, suas afirmações podem nos parecer, com a perspectiva do tempo transcorrido, verdadeiramente exemplares. Desde logo chamo a atenção para o fato de que tanto a antropologia brasileira quanto a indiana cada vez mais são reconhecidas internacionalmente pela sua produtividade e criati- vidade. Meu objetivo é, portanto, sociológico e comparativo.

O comentário de Sérgio Buarque de Holanda abre o primeiro parágrafo do livro Raízes do Brasil, em que o autor destaca a ambigüidade entre o fato de, produto de um país tropical, nossas referências serem européias:

"A tentativa de implantação da cultura européia em extenso território, dotado de condições naturais, se não adversas, largamente estranhas à sua tradição milenar, é, nas origens da sociedade brasileira, o fato dominante e mais rico em conseqüências. Trazendo de países distantes nossas formas de convívio, nossas instituições, nossas idéias, e timbrando em manter tudo isso em ambiente muitas vezes desfavorável e hostil, somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra" (1936; minha ênfase).Leia na íntegra...