entrevistas - 1978 / Mariza Peirano

Antonio Candido

"Então, nós fomos levados muito para misturar a reflexão filosófica e a reflexão sociológica com a arte, com a vida, com o amor, com a música, com acontecimentos dos jornais. Então, a nossa geração, parte se dirigiu para a profissão sociológica e antropológica e parte se dirigiu para a aplicação da sociologia a outras coisas: à crítica de arte, à literatura, ao teatro, à pintura. Então, isso é um pouco o panorama. Agora, eu, pessoalmente, eu confesso à senhora que eu tenho muita dificuldade, eu acho extremamente cacete os livros de sociologia propriamente dita: pesquisas urbanas com estatística. Aquilo não entra na minha cabeça. Ou entra na minha cabeça, mas eu reajo. Enquanto que tudo que é estudo antropológico tem por mim uma fascinação extraordinária, porque eu tenho a impressão que o elemento qualitativo da vida social é mais preservado pela antropologia do que pela sociologia. Eu ouvi uma vez alguém dizer, não sei mais – isso me marcou profundamente –, que a sociologia, no limite, tende à estatística, que é o ideal, e a antropologia, no limite, tende para o caso singular, o oposto. Então, se eu estou estudando uma cultura primitiva, eu acabo me preocupando com o problema humano daquele ser que está na minha frente – como é que ele anda, como é que ele mora, como é que ele canta, como é que ele dança, como é que ele vê o mundo –, e no outro extremo, na sociologia, eu não vejo ser nenhum, eu vejo que 7.283 pessoas usam pasta dentifrícia Kolynos. Então, o meu polo foi sempre um polo muito mais do qualitativo, o polo do caso singular, que me parecia ser muito mais satisfeito pela antropologia. E a antropologia, para mim, teve sempre um encanto poético muito grande." Leia na íntegra...